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Suicídio na adolescência

  1. O que leva um adolescente a cometer suicídio ou pensar nessa possibilidade?

A adolescência é uma fase marcada por grandes descobertas (afetivas, sexuais, profissionais);  O papel dos grupos sociais, as opiniões, vivências, valores, influenciam significativamente a vida dos adolescentes.  A necessidade de se adaptar, o julgamento social intenso, a falta de experiências para enfrentar essas situações gera grande ansiedade.  A falta de habilidade para resolver conflitos, não se sentir apoiado pela família, e uma necessidade imediata de se desvencilhar dos sentimentos negativos pode gerar no adolescente a ideia de acabar com tudo – e um dos pensamentos imediatistas é o suicídio.  Vale ressaltar que muitas vezes a ideia não é morrer, mas se livrar da situação que lhe parece insustentável.

  1. Quais são as doenças psicológicas mais ligadas a esta situação?

Depressão, transtorno bipolar, transtornos de personalidade, além de abuso de substâncias químicas.

  1. Uma adolescente que cogita a possibilidade de cometer suicídio geralmente já possui alguma doença psicológica?

Não necessariamente.  Todos nós já pensamos alguma vez em sumir do mapa, desaparecer, acabar com o sofrimento vivenciado no momento.  O agravante é a sociedade que valoriza o imediatismo, o clicar de um botão para mudar a sua vida.   Mas a realidade não é desta maneira.  É preciso ter tolerância para os relacionamentos familiares e afetivos, ter persistência para superar as dificuldades na escola.  Muitas vezes essa impulsividade é que leva o adolescente a pensar no suicídio.  Sem dúvidas que a depressão é uma das principais precursoras de ideias suicidas.  Mas é importante entendermos que a depressão também é decorrente da falta de habilidades do indivíduo se adaptar ao mundo.  Como ele tem dificuldades, em vez de enfrentar os conflitos ele se afasta e se isola, o que gera mais sentimentos de incompetência para superar os desafios.

  1. Os adolescentes são considerados mais vulneráveis nessa ocasião? Para eles é mais difícil lidar com sentimentos e entender que o suicídio não é uma solução para os problemas?

Não diria que os mais vulneráveis.  Em qualquer idade é possível se sentir incapaz de lidar com as situações difíceis na vida.  Mas certamente a adolescência é um período que exige grande adaptação em vários aspectos, e tudo ao mesmo tempo.  Sem dúvidas esse contexto implica num momento de mais ansiedade.  Se o adolescente não consegue desenvolver habilidades adequadas para resolução de problemas, convívio social, tomada de decisão, contatos afetivos, poderá ter maior tendência a desenvolver transtornos de ansiedade ou depressão.  E mais uma vez o suicídio acaba sendo uma alternativa para acabar com o sofrimento.  O maior risco é que o adolescente é impulsivo, e, pode num momento de desespero, ter uma tentativa “bem-sucedida”.

  1. Um estudo publicado na revista de medicina The Lanced, constatou que o número de meninas que se automutilam chega a ser maior do que meninos, essa afirmação é consistente? E por qual razão isto ocorre?

Alguns outros estudos corroboram com esta análise – a automutilação ser mais frequente em meninas do que em meninos.  A automutilação na maioria das vezes é provocada para suplantar uma dor emocional sentida pelo indivíduo, num contexto em que ele pode controlar.  Normalmente o adolescente tem em sua história grande desamparo.  Ou seja, não consegue sentir que possa controlar ou evitar o sofrimento.  Também não se sente amparado para enfrentar suas dificuldades.  Quando desenvolve a automutilação, é como se pudesse “controlar” esse sofrimento, lhe causando uma espécie de alívio.  Uma hipótese é de que as meninas são mais autorizadas a sentir e expressar suas emoções.  Mesmo não sabendo fazer de forma adequada –  se mutilando – acabam se expressando.  Já os meninos não estão socialmente autorizados a sentir, e, portanto, acabam muitas vezes não “valorizando” seus sentimentos e calando-se.

  1. A identificação com séries, livros e histórias de terceiros que também passaram por situação parecida, serve como ajuda para que eles não se sintam sozinhos? E até que ponto essa influência pode se tornar prejudicial? (Como podemos acompanhar adolescentes que se identificaram com a história da série 13 reasons why e cometeram suicídio)

Infelizmente a divulgação de estratégias inadequadas para resolver os problemas também podem servir como incentivo.  Principalmente porque as pessoas se identificam com o sofrimento e acabam imaginando que se a automutilação trouxe alívio para o outro, também poderá trazer para elas.  Um outro perigo sobre o grande número de informações veiculada na internet é a “moda” dos comportamentos.  Como é uma fase em que os adolescentes são controlados pelo grupo.  É muito possível que se copie uma conduta para fazer parte de um determinado grupo –  querer provar algo para o grupo ou para alguém como um namorado por exemplo, querer provar seu amor, sua coragem, etc.  Neste caso o recado fica para os pais:  embora o adolescente pareça independente, é fundamental que seja acompanhado de perto, para que se possa prestar o auxílio necessário.  Mas vale ressaltar que não é porque alguém leu, ouviu ou viu alguém que se suicidou é que a pessoa irá pensar nisso.  Há um grande sofrimento antes de qualquer pensamento suicida, então devemos entender que falar sobre o assunto não é ruim, mas pode ser uma forma de esclarecer e incentivar a busca por auxílio.

  1. Como pode-se definir o suicídio?

Comportamentos cuja intenção seja de autolesão, com danos ao indivíduo, mesmo que não sejam letais.  Nem sempre a ideia central é a morte, mas a necessidade de se livrar de grande sofrimento e sentimentos de desesperança.

  1. O que geralmente passa na cabeça desses adolescentes quando pensam em cometer suicídio?

Desesperança, frustração, tristeza, falta de alternativas para lidar com seu sofrimento, solidão, desamparo, falta de apoio… todos esses sentimentos estão presentes quando uma pessoa tenta o suicídio.  A baixa tolerância para enfrentar as dificuldades ou mesmo a falta de habilidades para lidar com seus problemas somadas à impulsividade característica da adolescência formam um contexto perfeito para as tentativas de suicídio.

  1. Quais sinais os adolescentes dão em casos como esse? Como eles se expressam, geralmente, como forma de pedir ajuda?

Mudanças significativas de comportamentos como vestimenta para esconder automutilação, isolamento, calmaria repentina, alterações de humor, falar sobre suicídio/morte, planos sobre suicidar-se, começar a organizar suas coisas, doar o que gosta, deixar mensagens de despedidas, expressar desesperança, relatar pensamentos de autodestruição, relatos de que só atrapalha, de não perceber motivos para estar vivo, discurso de falta de planos para o futuro, relato de sentimentos de fracasso na vida em geral, conflitos em relação a sexualidade, jovens que passaram por grandes perdas ou apresentam grande dificuldade para lidar com as dificuldades diárias.

  1. Qual a melhor forma dos jovens ajudar amigos da mesma idade que esteja passando por isso? Ou caso ele mesmo passe por isso, como pedir ajuda?

A melhor maneira de ajuda-lo é incentivando a buscar auxilio profissional especializado para resolver os problemas de forma adequada (psicólogo, psiquiatra, médicos).  Tais profissionais poderão lhe ajudar a descobrir maneiras para enfrentar suas dificuldades, fortalecendo sua autoestima, autoconfiança, e lhe ensinando formas para enfrentar as dificuldades.  Demonstrar apoio, ouvir as dificuldades não menosprezando os problemas, além de incentivar o jovem a buscar apoio na família podem ser uteis também.

  1. A falta de estrutura familiar ou atenção por parte dos pais, influência na decisão do jovem tirar a vida?

Sem dúvidas que sim.  A família tem papel fundamental para qualquer indivíduo no que diz respeito a sua autoimagem.  Os familiares são nossos pilares para o aprendizado desde habilidades como andar até o aprender a sentir, a se relacionar, a expressar sentimentos e resolver problemas.  Quando a família não apoia o indivíduo, não o ouve, não o respeita em suas dificuldades, há um grande problema, pois, essa pessoa buscará esse apoio em outros locais, que nem sempre será a maneira mais adequada.  Uma família que consegue lidar unida com os problemas, ensina o indivíduo a ter tolerância e flexibilidade para enfrentar as dificuldades, sabendo que ele sempre terá alguém com quem poderá contar ou lhe estender a mão.  O sentimento de solidão é o mais característico do indivíduo que tenta o suicídio.

  1. São identificados grupos nas redes sociais, o qual jovens contam suas experiências, angústias.  Essa forma de socialização ajuda o jovem a superar suas tristezas?

Assim como informações podem trazer alternativas inadequadas, os grupos nas redes sociais podem trazer a esperança para aqueles que sofrem.  Relatos sobre dificuldades, tentativas de solucionar problemas podem trazer a esperança de se sentir capaz de enfrentar as dificuldades diárias.  Não se sentir o único pode ser uma perspectiva de futuro.  Os jovens hoje se relacionam muito pelas redes.  As redes atingem um número grande de adolescentes numa linguagem acessível e com conteúdo que eles possam se identificar.

  1. Qual a melhor forma de combater o suicídio?

A prevenção é a melhor alternativa.  E como prevenção entende-se que é ensinar tolerância, além de oferecer mais suporte e alternativas do que julgamento e críticas.  Compreender os motivos pelos quais a pessoa está sofrendo é um dos primeiros passos.  A depressão ou qualquer outra doença ligada ao suicídio não é meramente uma questão de chamar atenção.  Quando o adolescente dá dicas que precisa de atenção, devemos mostrar que estamos atentos.  Mostrar que ele faz diferença para a família e para o grupo ao qual pertence.  Pessoas que se sentem amadas, seguras, amparadas, importantes, sentem que são capazes de realizar e conquistar sonhos, não cometem suicídio.  Saber que a automutilação é para chamar a atenção não resolve o problema.  Precisamos entender o objetivo daquele comportamento auto lesivo, qual necessidade ele apresenta, e olhar com atenção, amor e respeito.

Entrevista concedida à Aline Castro para elaboração de seu TCC no curso de jornalismo das faculdades FIAM FAAM.

Link para o material finalizado: Sessão #Papo Sério   pagina 21.

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